03 de agosto de 2021
Cara amiga imaginária e inexistente
Estou escrevendo essa carta a você porque sinceramente não sei o que fazer. Na teoria eu deveria confiar em Deus de todo o meu coração, entretanto, por algum motivo desconhecido, turvo aos meus olhos, eu não consigo. Não sei o que fazer em relação a isso. Gostaria que estivesse aqui para me dar alguns conselhos, porém a sua insistência em não existir dificulta em muita essa possibilidade.
Aos seus olhos eu devo parecer um louco, além do fato de conversar com uma garota imaginária, por não confiar em Deus de todo o meu coração. De fato você tem um ponto; bastante razoável devo acrescentar. Porém mesmo tendo isso em mente algo ainda persiste em me impulsionar a sentir medo, um medo paralisante e paranoico.
O que diabos eu deveria fazer, como vencer esse tormento mental?
Eu, sinceramente, não confio em mim mesmo. De fato, não deveria. Todavia não é apenas uma incredulidade saudável em minha essência boa que eu tenho. Se revela mais como um medo, persistente e inquantificável, sobre a minha verdadeira natureza. Isso não é um clichê. Eu sou uma pessoa má, talvez a pior delas, porque não tenho o privilégio de escolher um lado, porque a minha mente batalha entre esses dois lados, caracterizar isso como uma guerra fria seria tangencia a verdadeira essência desse conflito, chamá-lo de dissonância cognitiva seria um eufemismo. Contudo chamá-lo de inferno, em certos aspectos, seria uma hipérbole.
Deus! O que eu devo fazer? Estou eu condenado a mediocridade e superficialidade? Morrerei sozinho por fim? Alguém vai me salvar? Posso, afinal, ser salvo? Como posso ser salvo de mim mesmo? Quem sou eu afinal?
Minha cara amiga, por que eu persisto nisso? Por que? Não seria mais prático eu me entregar a sociopatia ou talvez a morte? Encerrar essa existência confusa e deprimente? Existe algum cenário, utópico e futuro, onde eu desfrutarei da felicidade?
Seja sincera. Você realmente acredita que Deus nos ama como somos? Posso confiar nele? Posso confiar em alguém? Ele é digno da minha confiança? Por que você não responde a droga da pergunta?
Ela me deixa vulnerável. Eu não gosto disso; nem um pouco. Ela tem em suas mãos o poder de me ferir. O que eu deveria fazer nesse cenário? Me afastar? Eu tenho medo dela me abandonar, dela perceber a minha verdadeira essência, do que, precisamente, se esconde aqui nas sombras. Qual seria a reação dela? Ela me abraçaria? Colocaria as suas pequenas e suaves mãos no meu rosto? Descansaria a sua cabeça no meu peito? Me aqueceria? Meu corpo? Minha alma? Não. Sabemos exatamente o que ela faria. Ela iria mentir; diria que vai estar comigo pra quando eu precisar, talvez até apelaria pra alguma termo carinhoso se referindo a mim, como uma ilusão bem bolada; mas por fim a frequência dos “oii! Como você está?" diminuiria, respostas curtas, vagas e secas constituíram 90% dos nossos diálogos, já não existiria mais aquela doce e simpática curiosidade; o ânimo em sua voz, o brilho no seu olhar.
Estamos fadados, não por causa do destino, mas por ser quem somos. Não há escapatória para isso minha cara. Eu estou quebrado. Não existe conserto para isso. Sou um homem destinado a ficar só. Estou destinado a ser um vaso de desonra, destinado a ser como o meu pai.
Eu vou falecer, escolhi ser infeliz nessa vida e provavelmente serei condenado na próxima. É evidente que a culpa de todo esse roteiro clichê e entedioso, dramático em todos os sentidos, é minha, exclusivamente minha. Sou responsável pelas minhas ações, é meu dever e minha obrigação ser bom perante as situações e cenários, mesmo que desde sempre não tenha bondade nenhuma em mim e que o que eu tinha de bom e inocente foi usurpado de mim. Mas nenhuma dessas variáveis importa perante o quadro geral. Sou mal e irei pro inferno, ao menos que eu me arrependa. Porém sou incapaz disso, a minha programação é o egoísmo e medo. Estou lutando por uma batalha perdida. A esperança é uma droga alucinógena.
Pareço pessimista? Louco? Me explique então por que você não está aqui? Para aliviar a minha dor e angústia, para me livrar desse tormento que me aprisiona e puxa para baixo. Por que?
Você sabe. Você viu o que eu vi. As coisas que minha mente pensa e deseja. O que eu sonho quando fecho os meus olhos. As coisas que eu vi.
Por que diabos Deus me fez? Se desde de cedo estava eu condenado a ter pesadelos e desejos malignos. Se eu preciso vestir uma roupa nova, abandonar tudo, renunciar a mim mesmo, seguir ele acima de tudo. No final vai restar alguma coisa de mim? Ou serei completamente transformado. Tem alguma coisa em mim? Alguma coisa que me faz único? Do que provém esse item? Devo me orgulhar? Devo me livrar?
Por favor me responda. Eu imploro. Tenha misericórdia de mim? Me ame droga!
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